sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Uma cena portuguesa

A voz dessa mulher do povo é encantadora e mais comove a companheira de negro, em silencioso respeito. Desde que retornei a Portugal após cruzar o Atlântico menina ainda, sempre me causaram forte impacto as imagens dessas mulheres vestidas de negro, hoje não tão comuns no Portugal pós 25 de Abril. A elas dediquei o poema "Viuvez sem espera", inserido no meu livro "Madeira, do vinho à saudade", Coleção Caderno Ilha 3, Funchal, 1989:

Viuvez sem espera

Negras, as mulheres
nos verdes campos
ceifam a cor.
Curvas as foices
cortando ervas
côncavas as enxadas
cavando dores.
Negras e curvas, as mulheres
adubam com nênias a terra
em definitiva viuvez.

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