quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Jornal de viagem - I

"Estamos condenados a navegar para sempre, viver para sempre"
                                                    Aleksander Sokurov (in "Arca Russa")

Retorno à minha Ítaca, olhos e alma repletos de novas gentes e novas paisagens, corpo maltratado pelas refregas de mares outros, aeroportos e estações.
Ver o outro, assimilar o outro, tentativa de compreensão e tolerância, difícil mas saudável prática de alteridade.
Antes da partida, deixei aqui poemas de alguns poetas russos de minha admiração, como sinalização para a viagem que se iniciaria por esse país continente, tão nosso desconhecido.



Nas pegadas de Vladimir, Anna, Sierguéi, assim mesmo, na intimidade do primeiro nome, tentei penetrar no universo de uma civilização presente no imaginário de todo ocidental



bem como no significado de uma língua e seu (para mim) indecifrável alfabeto


Tentativa de penetrar minimamente no cotidiano de onde foi retirada uma literatura (século XIX de primeira metade do Século XX) que só conheço em tradução, sem poder assegurar que não foi traída na sua essência.

 
"Somente no Kremlin
              os farrapos do poeta
brilham contra o vento,
 uma bandeira rubra" (Maiakovski)



Moscou (justamente para visitantes da vez primeira) é a Praça Vermelha e seus batalhões, e suas paradas militares e seus discursos totalitários, agora substituídos por hordas de turistas e... pasmem, um Shopping com marcas de altíssimo luxo. Para fotografar um monumento é preciso espantar 100 japoneses e outras 100 nacionalidades mais.



Moscou é o Kremlin, antes apenas muralhas indevassáveis, agora portas abertas que se recusam a recordar o passado recente.

Moscou são as escandalosamente belas cúpulas de ouro






e as igualmente escandalosa e inacreditavelmente belas estações de Metrô, museus abertos permanentemente aos passantes distraídos (ou não), bem como aos embasbacados viajantes, beneficiando-se do pouco movimento de uma tarde de domingo







No regresso, a contabilização de uma carga brutal de informação, numa conta que jamais fechará. Estrangeira sempre. Uma cidade, um lugar, um país, só se conhece vivendo. Conhecer de passagem, é apenas visita e o papel da visita é sempre raso, superficial. Ainda assim, fica-nos a emoção do ver e sentir o que havia sido, antes, apenas intuído. A viagem continuará por outras plagas que irão, de alguma forma se sobrepondo, na elaboração de uma nova cartografia pessoal, a literatura e o imaginário de permeio, signos para navegação eterna.  (dtv)

4 comentários:

  1. Dalila, que vontade me deu de conhecer esse lugar! Um período luminoso voces escolheram para ir! Obrigada por compartilhar conosco essas imagens tão lindas e esse texto, como sempre poético.

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  2. Obrigada, minha cara Adélia. Quando puder, vá... sempre vale a pena.

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  3. Viagem compartilhada. Você é como um grande livro,viajamos em seus relatos e sensibilidades. Sempre é bom seu retorno, seja sempre bem vinda.

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  4. Obrigada, cara amiga Jurema. Viajar é, sim, muito bom, mas é melhor ainda retornar e estar novamente rodeada de familiares e amigos em terras que escolhi para viver.

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